à letra, unlearning pode ser compreendido como o processo de desaprender conceitos, crenças e práticas interiorizadas anteriormente, de forma a abrir um espaço voluntário para novos conhecimentos e perspectivas. é também um conceito intimamente enraizado na ideia de que o conhecimento e a compressão são dinâmicos e não estanques – o que, por sua vez, se reflete na capacidade de mudar e aceitar essa mudança como fundamental para o crescimento individual e intelectual.
na sua vertente mais psicológica – por muito antagónico que possa parecer – unlearning é também associado a uma filosofia mais zen, mais liberta e de um esvaziar de um copo muitas vezes visto como meio cheio. de acordo com mariana plata, psicóloga focada na educação, saúde mental e autenticidade, unlearning é capacidade de ‘reconhecer a nossa própria curiosidade’ e a nós próprios. ‘é embarcar nesta jornada de decisões: do que fica, do que vai e daquilo que é necessário para vivermos de forma mais autêntica’. por vezes, defende, é também a criação ‘de espaço’ e a ‘negação do que já não funciona’. ‘unlearning é um processo complexo. o cérebro beneficia naturalmente o conceito familiar e o caminho de menor resistência. os padrões impregnam-se e criam uma zona de conforto mais resistente a novas informações – um fenómeno chamado de favorecimento cognitivo que leva o cérebro a reafirmar ideias e crenças já conhecidas, opondo-se ao contraditório’, diz gustavo razzetti, estudioso da mente e da sua capacidade de adaptação. ‘unlearning tem início com reconhecer aquilo a que damos primazia cognitiva e a crenças obsoletas. requer a humildade de nos questionarmos e de admitirmos a possibilidade de estar errados ou de que algumas ideias já não fazem sentido. esta introspeção é um processo desafiante e que requer uma dose de vulnerabilidade capaz de nos fazer questionar padrões antigos’, acrescenta.
de uma forma mais simplória, este conceito enfatiza a elasticidade do pensamento e a capacidade de transcender ideias já absorvidas. desafia a crença e a incerteza, liberta do passado e dá origem a um processo de crítica, reflexão e criatividade que leva, em muitos casos, à construção de novos significados.
é neste processo de desconstrução de um próprio texto – sem um princípio, meio e fim bem vincado – que nascem, para mim, as unlearning series. inspiradas nominalmente pela música de evidence – que mais tarde daria origem a um álbum (unlearning vol. 1) – estes séries são um conjunto de músicas, organizadas em playlists ou não, cujo objetivo passa por desprender ideias pré-concebidas sobre sons, artistas ou vertentes. esvaziar um copo para voltar a enchê-lo com reflexos de compreensão, de conhecimento incompleto e de curiosidade suficiente para continuar a conhecer e a crescer.
no final do dia, como diz o próprio evidence, to throw it all way, you gotta know what you got. um brinde a isso.
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